A cerimónia, feito.
Agosto 24, 2021
Hora de trocar novamente de lugar, a ultima posição. Ao fundo da sala, de frente para a parede e de costas voltadas a tudo. Sei que estava ladeada por duas colunas e que deveria apoiar os braços, assim numa posição a modos que majestosa só que de costas. Pausa para o revirar de olhos do costume. Sinto as costas tensas e já me doí tudo, uma vontade enorme de me coçar. Nem descontrair o pescoço posso, já não vou aguentar muito mais.
O ar volta a mexer a minha volta, oiço conversas sobre as nádegas e pernas. Os comentários nem sempre são agradáveis, alguns são muito depreciativos. Deixo a mente divagar, estava quase. Concentro-me em decorar vozes e cheiros para depois não fazer asneira a escolher, se eu própria fosse escolhida por alguém, claro. Que arrogância Maria, pensei.
Sobressaltei-me, estava alguém muito perto do meu corpo, como que a provocar , tem o mesmo cheiro do outro do cadeirão, é o mesmo pensei, é atrevido e está a tentar provocar uma reacção. Eu sabia que podia acontecer, tinha sido avisada. O nosso poder de autocontrole era também avaliado, a compostura não se perdia nunca. Éramos gado, mas gado com classe!
Oiço o sinal de que a exposição tinha terminado. Sinto a mão do guia e preparo-me para caminhar. A saída estava longe e as minhas passadas seriam lentas e graciosas. Ou pelos menos assim treinei, tenho as pernas tão dormentes que não sei se de graciosa tenho alguma coisa.
Palmas. Palmas! As pessoas estão a aplaudir...não sabia que ia acontecer. Senti orgulho e depois vergonha das minhas emoções, é tudo tão surreal.
Fecharam a porta atrás de nós. No salão de entrada estávamos nós os submissos e os guias. Tirámos finalmente as vendas. Silêncio.
Tal como eu, todos os outros estavam de rastos, com conflitos, aliviados, orgulhosos, tudo ao mesmo tempo e no fundo um medo. O medo de não ser escolhida por ninguém. É real. Contra tudo o que acredito e sei, a verdade, é que tenho medo.
Vamos para o quarto, caminhei com calma, com os sapatos e a venda numa mão enquanto que com a outra coçava aquele creme brilhante. Abri a porta do meu quarto e vi...